segunda-feira, 6 de outubro de 2008

AUTOPSICOGRAFIA

(Fernando Pessoa)

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

2 comentários:

Isis disse...

O poeta é um eterno fingidor, mas acredito que não só ele. Afinal, muitas vezes nós mesmos fingimos ser quem não somos para fugir a uma realidade rotineira que de certa forma nos aprisiona....concordas???

Red Zeppelin disse...

é, logo devemos ser todos poetas.